Seca provoca a mais grave crise em Pólo Avícola de Pernambuco
Os prejuízos causados
pela seca provocaram uma crise na produção de ovos e de frangos para o abate no
maior polo avícola de Pernambuco. Em São Bento do Una, muitos produtores estão
abandonando a atividade. O cenário é dramático numa das regiões mais prósperas
do estado.
O município é o que
mais produz ovos e frangos em todo o Nordeste e também enfrenta o colapso no
abastecimento de água.
No município, não
existe nenhuma grande barragem, nenhum grande açude público. Os produtores têm
que construir os próprios reservatórios e, desta vez, a estiagem secou todos
eles.
Muitas granjas estão
sendo desativadas. Os galpões abandonados se multiplicam, numa região que
produzia 2,7 milhões de ovos por dia e 350 mil frangos por semana. A seca
produziu uma crise sem precedentes no município. "Essa é a maior de todos
os tempos. Hoje nós não temos água de maneira nenhuma", lamenta o
avicultor Fernando Vilela Sobral.
A avicultura estava em
plena expansão no município antes da seca. No ano passado, a taxa de
crescimento foi de 8%. Com a estiagem mais severa das últimas décadas, os
produtores tiveram que adiar os projetos de ampliação e investir em algo mais
urgente, a sobrevivência das aves e da própria atividade.
Em uma das granjas
locais, o terreno já estava preparado para a construção de três galpões, mas
foi preciso investir R$ 11 mil na perfuração de um poço artesiano, que deu água
salgada, imprópria para as aves. As despesas aumentaram em R$ 1,8 mil por semana,
com a compra de água. O jeito foi reduzir o número de galinhas. Das 44 mil,
restaram 31 mil. E elas foram vendidas antes do tempo, quando estavam na fase
mais produtiva. "É o período que a gente começa a ganhar mais um pouco,
que é um ovo maior, a galinha está mais produtiva, mas estamos vendendo porque
não está dando para aguentar mesmo, para segurar", afirma o gerente
Joelson Lima da Silva.
Há casos mais
dramáticos. Cerca de 40% dos pequenos e médios produtores de frango para o
abate abandonaram a atividade. Como o avicultor Osório Cordeiro, que criava 11
mil aves. Ele demitiu os três funcionários e ficou com quatro galpões vazios.
"Fica difícil para a gente criar", pontua.
O preço do milho dobrou
nos últimos dois meses. Os custos com ração e água inviabilizaram a produção
até de granjas maiores. Uma delas tinha dez galpões, com 120 mil aves. O dono
suspendeu a produção há um mês e meio. "É seca e a gente vai continuar com
ela. Então a solução é [a construção de] barragens, não tem outra solução",
clama o avicultor José Francisco de Oliveira.
A produção de ovos no
município já caiu em 15%. O desemprego segue a mesma proporção, e pode piorar.
"A perspectiva é que, se não chover nos próximos 90 dias, nós teremos um
colapso total com mais de 50% da produção de ovos e de frango perdida.
Consequentemente a mesma quantidade também diminuirá nos postos de
trabalho", acredita o secretário de Desenvolvimento Econômico e Social do
município, Acácio Melo.
A crise na avicultura
já faz estragos no comércio. As lojas estão sem movimento a poucos dias do
Natal e a inadimplência aumentou. "Nós tivemos uma diminuição em média de
35% nas vendas diretas e estamos com cerca de 12% de inadimplência",
afirma o presidente da Câmara de Dirigentes Lojistas de São Bento do Una,
Alexandre Braga.
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